Vale a pena se importar tanto com o Mundial de Clubes?
Nesta sexta-feira, 15, a FIFA anunciou que a partir de 2021 vem aí mais um novo formato para o campeonato mundial de clubes. Será disputado de quatro em quatro anos, sendo jogado por 24 clubes e com vários e vários representantes das confederações de todos os continentes.
A ideia desse novo formato é que ele substitua a Copa das Confederações de seleções que embora charmosa, já não atrai mais ninguém no mundo do futebol há vários anos e deve ser extinta. Assim como o atual formato de disputa entre clubes de vários continentes está fadado a desaparecer. De acordo com a própria FIFA, o atual modelo que começou em 2005 e veio para substituir o tradicional Interclubes disputado por campeões da América do Sul contra o campeão Europeu, não atrai público nos jogos, não atrai uma boa audiência, consequentemente não atrai bons patrocínios e pra piorar, o nível técnico é sofrível. Além de tudo isso, nós sul-americanos sabemos bem que os clubes europeus não levam a competição com tanta vontade quanto nós.
Para nós brasileiros, é uma verdadeira obsessão ser considerado melhor do mundo. Poder tirar sarro do seu rival e se vangloriar de ter ganhado de times milionários e poderosos do continente europeu. Mas será que isso é realmente importante?
Desde a criação do novo formato os Europeus nadaram de braçadas, mesmo sem se esforçarem.
Das quinze edições do mundial organizado pela FIFA (já contando com a de 2000, disputada no Brasil), os sul-americanos venceram apenas QUATRO delas. E todos os títulos foram de times brasileiros. E você pode procurar imagens por aí, mas em nenhuma das onze vezes em que um europeu foi campeão uma cidade como Madri ou Milão parou para celebrar o feito. Por lá eles realmente se esforçam para ganhar a Champions League, que é o campeonato de clubes de maior nível no futebol mundial e temos que admitir isso.
Um clube sul-americano não vence a competição desde 2012
O Corinthians de Tite, Paulinho, Cássio e Guerrero foi o último time do nosso continente a levar a competição ao vencer o Chelsea por 1 a 0.
De lá pra cá, apenas times europeus ganharam a competição — e cá pra nós, sem muito esforço — e das últimas seis edições, desde então, os sul-americanos sequer chegaram até a final em metade delas.
Ainda passamos vergonha com mais frequência do que o esperado
Planejamentos de anos inteiros vão para o ralo em questão de minutos graças a alguns vexames protagonizados por clubes sul-americanos. MazembeDay e RajaDay que nãos nos deixam mentir. Isso sem contar os 4 a 0 do Barcelona em cima do badalado Santos do Neymar em 2011. E infelizmente não há perspectivas de que no futuro os clubes do nosso continente vão conseguir rivalizar em nível, investimento ou preparação com os clubes europeus. Digo isso sem complexo de vira-lata nenhum, apenas uma triste realidade.
Dificilmente um sul-americano deve vencer no novo formato. Especialmente se for quatro anos após ter levado a Libertadores.
Suponha que o Grêmio campeão da Libertadores de 2017 tenha se classificado para disputar o Mundial de clubes em 2021. Quais as chances de ter um mesmo time forte e competitivo que tinha quatro anos antes chegar firme para essa disputa? De lá pra cá o Imortal tricolor já perdeu seu goleiro, quase perdeu o técnico Renato Gaúcho e já remontou bastante sua base. O mesmo aconteceu com aquele Atlético Nacional da Colômbia de 2016. Quatro anos é MUITO tempo para nossa realidade. Outro exemplo é o Palmeiras de 1999, um supertime. Quatro anos depois, em 2002, um caco de elenco destruído que foi rebaixado. Quais as chances de levar alguma coisa nesse novo formato?
Grandes clubes do futebol mundial nunca venceram a competição. Isso tira a grandeza deles?
O que há em comum entre a Juventus, Liverpool, Benfica, Boca Jrs, Ajax, Santos, Palmeiras, Flamengo, Independiente, Olimpia e tantos outros?
Exatamente. Nenhum deles ganhou um mundial organizado pela FIFA. Uns foram reconhecidos pelo Interclubes, outros não, mas independente do clubismo e tiração de sarro de rivais, esses clubes nunca foram “campeões mundiais” e nem por isso são menores ou menos tradicionais em nível mundial. Certo?
Já foi dito isso, mas vale reforçar: OS EUROPEUS NÃO LIGAM PARA O MUNDIAL DE CLUBES.
O torcedor europeu quer e privilegia a glória de vencer a Liga dos Campeões. É o maior campeonato de clubes do mundo, concorde você ou não. Além disso, há aquela eterna briga entre a UEFA e a FIFA e exceto quando o assunto é Copa do Mundo de seleções, os clubes e federações europeias claramente não fazem o menor esforço para colaborar com as ideias da FIFA. O exemplo mais recente disso foi a ameaça de boicote ao novo formato do mundial assinada pelos principais clubes europeus.
Você que teve seu time perdendo o mundial para um europeu deve ter se indignado ao ver os jogadores de seu time arrasados em campo, enquanto os europeus celebram de maneira apenas protocolar. Quase que por obrigação. É um direito deles. Imagine seu time tendo que disputar um campeonato de clubes das Américas e tendo que ganhar de um clube da Guatemala ou Costa Rica? É legal, é bacana, mas a gente sabe que não é o mesmo prazer do que ganhar de alguém do mesmo nível que o seu. É assim que o futebol europeu lida com o que a gente tanto discute por aí.
Esse mundial deve ter tempo limitado
Por todos os fatores citados acima e também pela provável falta de investimento (veja aqui), essa nova versão do Mundial de Clubes deve ter o mesmo destino da Copa das Confederações em pouquíssimas edições. Vão continuar os jogos desinteressantes, o baixo nível técnico, o inchaço desnecessário e é claro, a disputa de uma competição que vai acontecer no final do calendário europeu e no meio do nosso campeonato por aqui.
Quem comemorou, comemorou, aproveite. Quem não comemorou, pode ser que não consiga mais em breve.
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Muito se fala do final dos Estaduais, mas a realidade é que o que vem por aí é o final do “Mundial”. O que é bastante natural. A Champions League já é mais ou menos como os campeonatos de baseball ou a NBA nos EUA que se autoproclamam como campeões mundiais, afinal de contas, o nível técnico mais alto está concentrado lá. Cada ano que passa perdemos mais talentos antes dos 20 anos para o mercado europeu e asiático, cada vez mais bagunça acontece em nosso calendário e a gente discutindo se ganhamos um jogo de um grande europeu uma vez ou não. Mérito de quem ganhou, não importa se foi jogando por uma bola ou jogando pra cima de igual pra igual. Ganhou, ficou na história.
Será que daqui a 50 anos nossa discussão não será se São Paulo, Corinthians e Inter tem ou não mundial quando inventarem um novo modelo de disputa?