Se o Baggio tivesse acertado aquele pênalti…
Rose Bowl, Pasadena,CA, 17 de Julho de 1994.
O craque da seleção italiana Roberto Baggio se prepara para a cobrança de seu pênalti. Ele precisa marcar para manter a Azurra na disputa, se perder o tetra é do Brasil e não da Itália. Autorizado. Ele corre. Taffarel pula para a esquerda, Baggio bate forte, no canto alto direito, a bola entra na gaveta. A Itália respira aliviada. 3 a 3 agora e o Brasil tem seu último pênalti para bater. Se fizer, acaba o sonho.
Bebeto é o próximo. Beija a bola, coloca na marca e parte. Chute colocado a meia altura, Pagliuca espalma. A disputa continua e agora em cobranças alternadas. Quem acertar e o adversário errar fica com o tetra. Tensão no estádio. O calor parece aumentar.
Para a Itália vem Paolo Maldini. Com categoria ele desloca Taffarel e marca. 4 a 3 para a seleção italiana. O sonho que parecia ter terminado agora está a uma defesa de Pagliuca de se realizar. Aldair vem para bater e manter a disputa aberta. Ele chuta com força no canto esquerdo, Pagliuca de ponta de dedo desvia para a trave e a bola sai. Acabou! Acabou! É tetra! A Itália conquista o inédito tetra campeonato mundial de futebol. Festa azul no calor de Los Angeles.
No Brasil, uma grande consternação.
24 anos depois e o sonho da quarta estrela foi por água abaixo mais uma vez. Nunca antes havíamos estado tão próximos.
Dias passam e a dor da perda da Copa segue firme. Desde a noite daquele domingo os programas esportivos pedem a cabeça do retranqueiro Parreira e sua mania idiota de jogar pensando apenas em resultado, onde estava a essencia do futebol brasileiro? Por onde andou o futebol arte? Boa mesmo era a seleção de 1982 que merecia ter ganhado a Copa, essa daí só teria ganhado na sorte.
Romário é chamado de pipoqueiro por todos os cantos. Bebeto idem.
Que ideia absurda Parreira e Zagalo terem convocado Raí, Zinho e Viola. Não ajudaram em nada. Faltou alguém decisivo.
Quem é Cafu? Por que o Parreira inventou de colocar esse moleque numa final pesada como essa?! E o Ronaldinho, tá certo que o menino tá começando bem, tem futuro, mas foi só pra passear e tirar foto? Poderia ter levado alguém mais experiente que pudesse decidir de verdade.
As consequências desse desastre em forma de campanha que levam o Brasil a quase 30 anos sem vencer uma Copa do Mundo foram muitos. O outrora “país do futebol” vê seus rivais aumentando a coleção de títulos e ficando para trás. A sucessão de coisas que vieram por conta dessa derrota transformam o Brasil, um eterno favorito, em um grande cavalo paraguaio sem estrutura.
- Parreira e Zagalo são execrados e demitidos ainda no avião rumo ao Brasil. O modelo de resultados falhou.
- Saudosistas pedem a terceira passagem de Telê Santana. Outros dizem que ele já teve a sua oportunidade e que é hora de olhar para o futuro.
- Wanderley Luxemburgo que conquistou os dois últimos campeonatos brasileiros assume a seleção no pós-copa e trabalha mirando a reformulação e o tetra na Copa da França em 1998.
- Nessa tentativa de reformular, Luxa cria uma base de jovens jogadores promissores para disputar as olimpíadas de Atlanta em 1996, mas o fracasso de dois anos antes pesa sob os ombros dos meninos liderados por Roberto Carlos, Rivaldo e Ronaldinho que acabam sendo derrotados prematuramente.
- Romário passa de herói à vilão em poucas horas e acaba não tendo grandes oportunidades na seleção brasileira, sua última disputa foi uma fracassada campanha de Copa América em 1997, já veterano e contestado, onde uma seleção ainda em reformulação perde para o Equador no mata-mata.
- Taffarel e Dunga são eternamente taxados como azarados. Dói a lembrança de 1990 e 1994 na mente dos torcedores. Não conseguem mais vestir a amarelinha e começam a rarear as oportunidades em grandes clubes.
- Uma patrocinadora italiana que enchia um clube de dinheiro deixa o país e prefere investir no futebol tetracampeão de seu próprio país e levar jovens talentos de todo o mundo para treinar lá. Outros investimentos similares passam a diminuir. O mercado da bola no Brasil entra em crise.
- Diante de uma sequência inesgotável de insucessos acumulados, uma grande empresa do ramo esportivo desiste de fechar um contrato multimilionário para patrocinar o uniforme da seleção brasileira.
- Alguns bons jogadores passam a cruzar o oceano para tentarem jogar em alto nível, já que o último grande time que o Brasil viu foi o São Paulo Bi-campeão mundial de 1992/1993. Poucos times grandes conseguem fechar as contas sem ter de dispensar seus maiores craques para o futebol europeu.
- A lei Pelé não consegue apoio o suficiente para sair do papel e aumenta a dificuldade dos clubes em negociar jogadores e para que os atletas consigam se acertar nos maiores times do Brasil.
- Visando a conquista de uma Copa do Mundo em um projeto futuro, os governantes investem em programas de educação e incentivo aos clubes, privilegiando a preparação física dos atletas. O talento é substituído por força física e treino tático nos moldes da Inglaterra e Espanha. A ideia é formar uma base forte acumular grandes títulos a partir da Copa de 2006.
- É o fim da era do jogador peladeiro e boêmio.
- Seleção brasileira sua para conseguir vaga na Copa de 1998 mas chega à França confiante que pode fazer uma boa campanha com os comandados de Luxemburgo, como o goleiro Danrlei, Djalminha, Giovanni e esperança de gols Túlio Maravilha. Cai nas quartas de final em uma derrota surpreendente para o Marrocos. Seria mais uma vez o fim do sonho do tetra que deve ser reiniciado para 2002… 2006… 2010….
Leia a seguir: