Como “O Rei Leão” pode nos ajudar a sobreviver a 2019
Fica cada vez mais claro que 2019 não é um bom ano. Acredite nisso ou não, muitos astrólogos, zoroastras e outros místicos alertavam que este seria um ano de São Jorge, ou seja, duro e cheio de batalhas.
Misticismo à parte, o que temos visto é uma quantidade gigantesca de notícias ruins dia após dia, situações que nos fazem viver com um nó na garganta frequente. É possível que você e as pessoas à sua volta estejam sentindo um grande cansaço e aquela sensação de “não dá”. O que aconteceu com o mundo? Ele ficou pior mesmo ou estamos sendo bombardeados com notícias ruins pela velocidade das informações? E essa avalanche de coisas ruins que vemos gera mais coisas ruins, gera mais desesperança e medidas drásticas? Sairemos um dia desse ciclo bem pouco virtuoso?
Tento pensar que 2019 seja finalmente o ano em que nós todos como seres humanos vamos começar a — pelo menos — refletir sobre o todo. Sobre como somos diante do próximo. A empatia parece ter acabado, mas se tem algo de bom que as noticias ruins trazem são as demonstrações de que nem tudo está perdido. Vemos exemplos de solidariedade e amor ao próximo que saem das cinzas de uma grande tragédia para acalentar nossos corações despedaçados. Boas pessoas devem ser exaltadas. Eu peço para que meus colegas de mídia e jornalismo em especial, que possam continuar buscando as boas histórias por trás das piores situações possíveis.
Hoje temos muitos valores ruins sendo destaque e poucas coisas boas sendo lembradas. Elas são importantes. Necessárias. E fica aquela pequena equação: se a gente só vê coisa ruim acontecendo uma hora nada mais parecerá ruim. Ou então, nos conformaremos com a ideia de que tudo pode piorar. E sempre dá. Mas não podemos deixar.
“Quer dizer então que você está sugerindo que a gente finja que nada de ruim está acontecendo????”
Não. O mundo realmente anda num ciclo de maldade e ódio que precisa ser combatido. O problema é descobrir como. Nós ainda estamos perdidos, mas acredito que a mudança de postura de cada um de nós pode ser um ponto de virada. Não é tarefa fácil.
Pense bem como você reage a alguém sendo ruim perto de você ou a alguma desgraça passando em sua TV e/ou timeline quase diariamente. Dá vontade de revidar com ainda mais força. Dá vontade de fazer coisas ainda piores. Hoje em dia é assim que tudo tem se resolvido. Pode ser que no passado também tivesse sido assim, mas (e aí mais um clichê) as redes sociais têm potencializado o comportamento das pessoas e as deixando “mais corajosas” quando o negócio é ser cruel umas com as outras. Isso sem contar o fato de vivermos em bolhas que retroalimentam as coisas de forma que nunca parece passar a sensação de coisas ruins.
E é aqui onde eu devo citar “Rei Leão” com dois momentos distintos que se colocados juntos podem nos ajudar a seguir em frente. Vamos para o ensinamento básico de “Hakuna Matata” dado por Timão a um desesperado Simba. O pequeno filhote de leão está sem perspectivas na vida e traumatizado com um acontecimento péssimo em sua vida, querendo apenas sumir e acaba ouvindo este conselho do suricate: “Coisas ruins acontecem e ninguém pode fazer nada para evitar, certo? Errado! Quando o mundo vira as costas para você, você vira as costas para o mundo”.
Embora seja mais fácil, não é o mais certo. E aí vamos a lição número dois que poderia complementar a fala de Timão que vem do babuíno Rafiki para um já jovem adulto Simba algum tempo depois.
Contextualizando, Simba reclama que o passado dói. Subitamente leva uma pancada na cabeça dado por Rafiki com seu cajado e reclama:
- Ai! Que história é essa?
- Não interessa! Está no passado! — responde Rafiki.
- É, mas ainda dói. — Diz Simba.
O macaco então explica que o passado realmente pode doer, mas podemos aprender com ele e em como fazer as coisas diferentes para que não doa. Eis aí a importância de aprendermos como lidar com tudo de ruim que acontece e diferente do que dizia Timão, não nos isolarmos cada um em sua bolha em busca de felicidade, mas sim de aprender e não repetir os erros. Erros e dores fazem parte da vida. Mas como seguir a diante pode ser o segredo de uma felicidade real.
“Hakuna Matata” é lindo dizer. Mas de viver é mais complicado. Seu significado é “sem problemas” na obra da Disney e em países como o Quênia. Mas nem sempre viver sem problemas quer dizer viver bem.
2019 é um ano que cada dia que passa nos mostra mais complicado, cheio de dor e dúvidas. Podemos mergulhar nisso, aceitar e conviver com tudo que acontece, absorvendo todo o sentimento ruim e prejudicando nossa saúde mental ou tentar aprender algo e junto com nossos amigos e familiares nos transformarmos. Parece papo (chatíssimo) de livro de auto-ajuda e formula mágica que nunca dará em nada. Mas temos que ter consciência do bom e velho “se cada um fizer a sua parte”… Sabe como é?
Empatia, compaixão, caridade com o próximo, saber a hora de deixar pra lá, saber a hora de apaziguar e saber a hora de lutar é importante. É importante equilibrar nossa cabeça e não nos deixarmos levar apenas por tudo de ruim que já aconteceu e pode vir a acontecer.
Um conselho que eu dou (e se fosse 100% eficiente eu não daria, venderia) é para que também você que me leu até este ponto, saiba o seu limite. A internet era para ser uma ferramenta ótima, mas como tudo que tem o dedo humano, uma hora acaba perdendo o rumo e se transformando em outras coisas…
E aí é que a gente vê muita coisa ruim, muita gente negativa, muita gente que só quer saber de si e de sua popularidade e conviver com isso o tempo todo é um grande perigo para sua cabeça. É importante estar online e saber tudo que anda acontecendo, assim como também é muito importante estar offline e descarregar um pouco dessa energia pesada.
Daí podemos voltar com as palavras do Timão sobre “virar as costas para o mundo” de vez em quando. Sair para curtir um dia ensolarado sem o celular. Ver um filme, ler e reler um bom livro, ir cozinhar, ficar com os amigos, brincar com seu animal de estimação, jogar jogos de tabuleiro, sei lá. Vai de cada pessoa descobrir onde é seu porto seguro para manter a vida equilibrada e não 100% ruim. É como se você estivesse recarregando a bateria para poder voltar para a dura rotina diária ainda mais preparado. Ou você nunca mais vai conseguir achar que existem coisas boas acontecendo.
E por fim, deixo uma frase de um grande pensador contemporâneo já falecido, o sambista Bezerra da Silva que dizia: “Quando a coisa tá muito ruim é que já tá perto de melhorar”.
2019 vai ser duro. Seja ainda mais firme do que isso.